Saulo Péricles Brocos Pires FerreiraEngenheiro mecânico, advogado e membro efetivo fundador da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (Acal).
PRIVATIZAÇÕES O QUE, PARA QUEM POR QUANTO E PARA QUE.
Por: Saulo Pericles Brocos Pires Ferreira.
Meus amados leitores: eu tenho um amigo de longuíssimas datas que tem uma ideia fixa: tudo tem que ser privatizado. O estado não é capaz de sequer administrar o cafezinho que é servido para os visitantes do Congresso em Brasília.
Eu, que faz tempo que não tenho o privilégio de saborear esse produto etíope que também se aclimatou em nossas terras tropicais, mas aquele tem o sabor de se tomar em companhia das pessoas que estão no centro do poder legislativo de nossa nação, seus auxiliares, apaniguados e visitantes. Uma fauna interessante, principalmente às quartas. Nas sextas, dava até medo de aparecerem assombrações, mas as assombrações estão por lá a qualquer tempo.
Mas não é o que eu realmente quero expor nessas mal traçadas.
Não sou nem nunca fui a favor do “Estado Empresário”, mas também nunca acreditei e existem robustas provas ao longo da História de “mão mágica do mercado” nunca foi uma controladora eficiente das relações comerciais, isso porque ela não distribui; é um Robin Hood às avessas: tira dos pobres para dar aos ricos. Então, como manter o equilíbrio quanto essas duas correntes de pensamento diametralmente opostas?
Vamos recorrer à história: depois do final da Segunda Guerra Mundial, quais foram os países que se reergueram mais intensamente, os vitoriosos? Não, a Alemanha e o Japão, mas por quê? ao contrário do que se possa achar de tudo de ruim que Hitler tinha, e ele tinha muito, ele caiu em cima das elites corruptas da Alemanha e botou todo mundo para correr. Inclusive os judeus sionistas e seus similares não judeus. Quando era descoberto algum tipo de corrupção, o machado funcionava para valer. Então, terminada a guerra, não ficou na Alemanha aquela elite corrupta que há séculos conseguiam fazer as manobras para extorquir do estado encomendas acima do preço. O mesmo ocorreu no Japão, onde da alta nobreza japonesa, ficou apenas o Imperador sem ser enforcado. E na nova elite que sucedeu a ela, apareceram os modernos e dedicados japoneses, que antes de pegarem no serviço, cantam o hino da empresa. Quando pegos em corrupção, se suicidam, Então temos as Toyotas as Mitsubishis, e todas essas empresas de ponta, que encheram de produtos japoneses os mercados do mundo e tornaram o Japão a terceira economia do mundo.
Podemos ainda citar o exemplo da Coréia do Sul, em que alguns generais introduziram a cultura do combate à corrupção desde o fundamental até o superior: a antiga educação Moral e Cívica” do tempo dos militares, mas de outro tipo, como é proibido olhar a prova do vizinho, é proibido usar dinheiro do povo para uso pessoal, usar veículo do estado para levar os filhos na escola, e isso ficou tão impregnado nas mentes dos coreanos, que hoje é a nação menos corrupta do mundo. A Presidente de lá perdeu o cargo e foi presa somente porque era amiga de uma corrupta.
Quanto à Inglaterra, ela ficou no marasmo até que um determinado dia apareceu a “Dama de Ferro” Margaret Thatcher, e também expurgou os intermediários e corruptos que faziam com que as coisas não andassem pelo Reino Unido, e com as devidas proteções ao estado, conseguiu privatizar várias empresas estatais, mas impondo-as regras duríssimas, que a permitiu, entre outras coisas, explorar petróleo no tempestuoso Mar do Norte. Ao deixar o governo, e perguntada o maior legado que tinha deixado para a posteridade ela respondeu: “Tony Blair”, um trabalhista que tinha o apelido de “Tory Blair”, (Tory é o nome que se chama o partido conservador), e que proferiu a famosa frase: não existe empresa pública nem privada; o que existe é empresa bem ou mal administrada”.
No Brasil. A terra do “homem cordial” de Sérgio Buarque de Holanda, a complacência com a corrupção é endêmica: os dois grumetes corruptos deixados por Cabral em 1.500, se reproduziram e nunca saíram do poder. Existem as mais diversas e criativas maneiras de surrupiar o Estado, isso em todos os seguimentos sociais de nosso estado. Nunca houve um movimento honesto, tanto no que se se convencionou chamar de direita, nem o que se convencionou chamar de esquerda. Temos a privatização corrupta e a estatização corrupta. O que na China você leva uma bala, e sua família paga por ela, aqui você ganha uma comenda. Os editais de concorrência são direcionados de uma forma tão vergonhosa que o mundo nos referencia como exemplo do que não é para ser feito.
Então me vem esse amigo coma ideia de privatizar as águas da transposição de rio São Francisco. Pelo amor de nossos ancestrais, alguns comuns, gente corajosa que a despeito de todas as expectativas, conseguiram vencer as adversidades e amealhar recursos para criarem suas famílias nos anos em que a providência lhes concedia prosperar num lugar hostil de todas as formas. Nunca é pouco repetir a história contada por minha bisavó, que no ano de 1877, vendo os paióis e giraus abastecidos, e o povo faminto a pedir, perguntou a sua mãe: por quê a gente não dá a eles?
A resposta veio curta e grossa: “se a gente der a eles, vai faltar para nós”. A luta pela sobrevivência era uma coisa presente em todos os lares daquela época.
Agora, que quase um século e meio depois se conseguiu que essa transposição chegasse até nós, vamos vender e ficar comprando nossa tão sonhada água? Existem bens que são inegociáveis. Um comprador vai nos vender essa água por preço de água mineral, o que vai inviabilizar todo o trabalho de todas as gerações de colonizadores que fomos dessas terras ressequidas.
Se nós nordestinos não temos condições de gerir nossa transposição e fornecer a nossos irmãos que tanto sofreram, alguém pode pensar que um alienígena terá?
Isso seria negar a nossa própria condição que Euclydes da Cunha nos colocou: O sertanejo é antes de tudo um forte, então, na sua concepção, se trocaria esse termo (forte) por incompetente, e tudo estaria resolvido, primo. Apenas eu nunca vou concordar com uma aberração como essa. Nossos ancestrais meus, seus e nossos, não merecem ter a gente como descendentes...
A Água é nossa!!!
Cajazeiras, 10 de fevereiro de 2025.
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